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Joana...

Joana era apaixonada por José. Joana tinha uma estranha devoção por aquele homem lindo. Não era só Joana, era ela e a torcida do flamengo. José a amava. Amava mesmo. Só tinha olhos pra ela. Não só pra ela, mas pra ela e pra torcida do Bahia (que é bem maior que a do flamengo).
Ué, mas ninguém vai entender como eles se amavam tanto e se davam tão mal. Passavam dias, semanas e até meses (que eu me lembro) sem ele aparecer pelas bandas de cá (parece até que já tinha outra família), e quando se viam, no estopim daquela paixão... brigavam feio e ele ia embora, sumia no mundo e aquilo foi tornando-se um ritual. Um cansativo ritual, diga-se de passagem.
A cidade era pequena, sabe como é cidade pequena, todo mundo fala de todo mundo, e as fofoqueiras beatas não tinham outra coisa a se falar, só falavam de Joana e José
Ela era uma moça tímida, recatada, recatada pra quem não a conhecia a fundo, eu sei bem como ela era, conhecia ela como ninguém e sabia que de recatada, nada tinha Joana, mas... quem sou eu pra falar?
José! ah, José! José tinha um sorriso lindo, cabelo bem cortado, um cheiro impecável, a barba mal feita, as mãos macias, umas pernas de causar inveja, uma boca carnuda e vermelha. Ah, José!
Eu era pequena na época e irmã de Joana, por isso sabia que ela não era recatada, via sempre as idas e vindas deles, lembro o desespero que minha mãe ficava ao ver como a notícia da filha "santa", se espalhava pela cidade. Era um Deus nos acuda!
Lembro bem como se sucedeu a 'tragédia'. Ah, não disse a vocês ainda, mas teve uma grande 'tragédia'. Foi um corre-corre, um desespero. A família ficaria mal falada por todos os cantos do Nordeste. Era um horror! Uma desgraceira sem fim. Eu já era uma mocinha. Linda mocinha.
"Ai meu Deus, a irmã mais nova de Joana fugira com José", era assim que a notícia se espalhava. "Ai que Joana vai se matar".
Naquele dia, lembro que José apareceu em nossa casa, tava muito estranho, sonso como sempre. E lindo, lindamente lindo. Vi que Joana e ele estavam de namorico na varanda, quando de repente, José procurou uma briga qualquer, sonso que era e já tramada a fuga, queria motivo pra brigar. Acho que brigaram porque ele dizia que a parede era branca e ela dizia que era azul. Era azul. Que José sonso!
Depois dessa briga armada, José foi embora Joana entrou aos prantos. Sempre entrava assim. Ninguém mais estranhava e o "zum zum zum" na cidade acontecia. "Coitada de Joana", as beatas diziam. "Coitada de Joana", a irmã mais nova dizia.
Devo dizer a vocês, que não sei como Joana ficou. Só sei que eu fiquei foi muito bem. Fui embora com José. Fugida. Não sei dizer quando nos apaixonamos. Só sei dizer que arrumei minhas coisas na noite anterior à vinda dele aqui e fui. Fui ser feliz. Deixei todo mundo pra trás. Deixei Joana pra trás. Deixei o escândalo pra trás e fui.
Hoje digo, vivo no interior do Ceará, tenho 3 filhos. Lindos! Sou feliz com meu José. Ele trabalha pra colocar comida em casa, e eu... ah, eu vivo, vivo feliz.
De Joana? nunca mais tive notícia, nem quero ter. Ele também não. Não tem mais torcida do Bahia. Não tem mais Joana.
José me ama. E eu, a irmã mais nova, o amo.
- Bruna Santos 

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